15 dezembro 2014

Sinais de esperança e confiança no futuro. E não de "queixinhas".


A propósito da suspensão de mandato do vice-presidente da Câmara de Lamego e da retirada de pelouros e respectivo “tempo inteiro” a um outro vereador por parte do presidente da Câmara, o PS de Lamego emitiu um comunicado, em quatro pontos, que me merece o seguinte comentário:

Sobre os pontos 1, 2 e 3, supostamente factuais, nada a aduzir. Já sobre o quarto e último ponto do comunicado considero que o mesmo roça a total subversão daquilo que deveria ser a atividade política séria, consequente e responsável.
É que tudo quanto o PS de Lamego nos tem a dizer sobre aquilo que considera serem os graves desmandos da gestão autárquica é que vai fazer queixinhas. Que vai fazer queixinhas à Inspeção (não se diz a qual, imaginamos que à IGF), que vai fazer queixinhas ao Tribunal de Contas e que vai fazer queixinhas ao Ministério Público (também não se diz a qual e aqui o exercício de adivinhação torna-se mais complicado).
É bom lembrar que desde os tempos de Charles-Louis de Secondat (e já lá vão mais de dois séculos e meio) que as democracias ocidentais se foram habituando à separação de poderes e de funções: às inspeções compete inspecionar, aos tribunais visa julgar, ao Ministério Público incumbe investigar e acusar e aos partidos políticos cabe fazer política (e não politiquice).
Portanto, os partidos políticos que se ponham a fazer política, a fazer política mesmo e à séria. Que nos façam uma leitura política da realidade (identificando constrangimentos mas, também, oportunidades), que nos digam que gestão política da coisa pública estão a fazer ou que alternativa nos propõem, que nos façam chegar as soluções e as propostas que têm para enfrentar os problemas que nos afligem e a todos condicionam a vida... Que façam tudo isso e que se deixem de querer bater uns nos outros com a mão de terceiros (seja ela da Inspeção, do Tribunal ou do Ministério Público).
No caso de Lamego, os políticos que denunciem a total ausência de projeto e estratégia autárquica; a acelerada e inexorável decadência institucional, económica e financeira que se abateu sobre o município; a letargia cívica e participativa que nos tem sufocado; a ensandecida e irresponsável decisão de se terem derretido dezenas de milhares de milhões de euros numa inutilidade chamada “multiusos”; a aparvalhada intervenção feita no chamado “eixo barroco”, etc., etc., etc., que nos digam que soluções têm para resolver todos estes problemas (que quer queiram, quer não, já estão criados e é preciso resolver) e que nos confortem com palavras de esperança em relação ao futuro porque bem triste já anda o nosso presente... sim, palavras e sinais de esperança e confiança no futuro. 

É disso que todos andamos ávidos e não de queixinhas adiposas que nem sequer precisam de ser feitas porque as entidades referidas já estão mais que avisadas e a fazer o seu trabalho. Se bem ou mal feito, logo se verá. Mas não será, com certeza, com mais uma queixinha a perturbar... que a decisão final terá melhor qualidade.

PS - Fiquei, entretanto, a saber pela leitura da ata da reunião de Câmara de 1 de Dezembro de 2014 (portanto anterior ao comunicado do PS) que o presidente da Câmara informou o executivo que, ele próprio, iria comunicar e enviar toda a documentação respeitante ao processo de dissolução e liquidação da empresa municipal “Lamego Convida”, ao Tribunal de Contas, à Inspeção Geral de Finanças e ao Ministério Público, o que torna ainda mais absurdo o Comunicado do PS.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Ouvir

Speech by ReadSpeaker