15 dezembro 2014

De como as coisas são

Nos últimos tempos dois factos da maior importância ocorreram no seio da Câmara Municipal de Lamego. A suspensão de mandato do vice-presidente e a retirada de pelouros e respectivo “tempo inteiro” a um dos vereadores.
Começando pelo segundo caso, o presidente da Câmara decidiu retirar os pelouros e respectivo “tempo inteiro” a Jorge Osório por falta de confiança política. Jurídica e politicamente é uma competência arbitrária do presidente da Câmara e portanto, quanto a este facto, nada a dizer - quanto às consequências políticas, isso são contas doutro rosário e para outras núpcias. Jorge Osório, por sua vez, decidiu manter-se como vereador sem pelouros atribuídos, provavelmente, agora, com outras liberdades. É um direito que lhe assiste já que é membro da Câmara por direito próprio, direito que lhe foi conferido diretamente pelo eleitorado. Também, neste caso, nada a dizer.
Já em relação ao primeiro caso, a iniciativa foi do próprio vice-presidente que invocando razões pessoais suspendeu o seu mandato por 360 dias. Contudo, a percepção colectiva é que a mesma se ficou a dever, não a razões pessoais, mas, sim, a dissensões insanáveis com o presidente da Câmara.
Neste contexto, e aqui a percepção conta, a posição de José Pereira é um ato politicamente falhado. A suspensão e as razões evocadas soam a falsete o que pode ser fatal para qualquer ambição política. 
A existir uma qualquer divergência inultrapassável com o presidente da Câmara, José Pereira só tinha uma saída: a da demissão, na sua extensão mínima (demitir-se de vice-presidente e prescindir dos pelouros que lhe haviam sido confiados, mantendo-se como vereador) ou na sua extensão máxima (pura e simplesmente demitir-se do cargo para o qual havia sido eleito). Claro que qualquer uma destas opções deveria ser acompanhada por um esclarecimento, muito claro e bem sustentado, à opinião pública que haveria de compreender... ou não! São os riscos da atividade. Quebrada a confiança política entre o presidente da Câmara e o vice-presidente não há regresso possível no reino da decência e da dignidade das instituições.
Se a ideia é esperar por uma qualquer cadeira vaga, o caso complica-se: é que tudo pode exalar a interlúdio oportunístico ou pior, ainda, tresandar a uma espécie de espera por “sapatos de defunto” (salvo seja). E ninguém, com certeza, gostaria de ter como presidente da Câmara alguém que se alcandorou ao cargo de forma tão matreira e felina. Confesso que não era, nem é, esta a imagem que tinha, e tenho, do eng. José Pereira. Fiquemo-nos, pois, pelo ato falhado.

Quanto ao direito que todos temos de saber toda a verdade – questão, também ela, da maior importância - ficará para outra ocasião.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Ouvir

Speech by ReadSpeaker