05 janeiro 2010

Cumplicidades com futuro

A vida das nações gera-se numa contínua sucessão de ciclos históricos que devem ser devidamente interpretados, compreendidos e revertidos a favor do desenvolvimento e prosperidade dos respectivos povos. Por isso, quando um país entende correctamente esses ciclos, os percepciona com lucidez e se ajusta com clareza e firmeza aos sinais do tempo, esse país será, não só, capaz de gerar ciclos de progresso como será, igualmente, capaz de criar períodos de prosperidade para o seu povo.

No passado, Portugal compreendeu bem o seu ciclo de independência nacional e de expansão do território (por isso se emancipou e cresceu), percepcionou como ninguém o ciclo das descobertas marítimas e da rota das especiarias (por isso se expandiu e construiu um império ao nível planetário), interpretou com realismo o ciclo do ouro do Brasil (por isso consolidou o seu império e incrementou o advento da sua industria). E esses foram alguns dos poucos ciclos históricos em que Portugal foi capaz de gerar relativa prosperidade para o seu povo.

Mais recentemente, ficam-nos, na retina, dois sinais de sentido contrário. O fim do ciclo do império que o Estado Novo teve dificuldades em percepcionar a tempo de evitar os conhecidos e dramáticos resultados para o país e o ciclo europeu que o actual regime democrático compreendeu com mediana clareza e que proporcionou a Portugal patamares de modernização e desenvolvimento que de outra forma dificilmente alcançaria.

Convém, pois, que estejamos atentos aos sinais do tempo. É que os ciclos históricos não são eternos. A vida é composta de mudança. E são já perceptíveis sinais que apontam para o fim do ciclo europeu tal como o conhecemos. Muito provavelmente o actual QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), que termina em 2013, será o último dispositivo de apoio à integração de Portugal na Europa. O que Portugal não conseguir até essa data dificilmente conseguirá no exclusivo seio materno da velha Europa.

Sejamos lúcidos. O ciclo europeu está à beira da exaustão. A Europa precisa de se reinventar. A hora é, pois, de balanço e de preparação de um novo ciclo. Um novo ciclo que não tenha necessariamente de cortar com o passado, que não tenha necessariamente de voltar as costas à Europa. Esse novo ciclo pode e deve ser aberto a partir da Europa. No entanto, a ambição nacional não se deve resignar às fronteiras do velho continente. Deve perscrutar novas fronteiras.

E perscrutando os sinais emergentes que o mapa-múndi nos vai revelando verificamos que as mais promissoras oportunidades se situam em áreas com quem Portugal soube estabelecer laços afectivos no passado. A China, a Índia, o Brasil, mas também Angola e Moçambique afirmam-se, cada vez mais, como os centros de gravidade da nova economia mundial. Urge, pois, restabelecer e fortificar relações com essas regiões às quais nos ligaram laços históricos assinaláveis.

O novo ciclo histórico de Portugal terá a dimensão do nosso arrojo e da nossa ambição. Portugal será agora na Europa o que conseguir ser fora dela. E fora dela já conhecemos, há muito e bem, os parceiros com quem poderemos forjar cumplicidades capazes de alicerçar as nossas ambições de progresso e desenvolvimento.

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