02 dezembro 2009

Evitar o pântano

A vida dos povos é em larga medida condicionada pelas acções e opções das suas elites ou, se assim se preferir, da sua classe dirigente. Só uma classe dirigente lúcida e preparada é capaz de proporcionar aos seus concidadãos patamares superiores de desenvolvimento e progresso que lhes proporcionem bem-estar e felicidade.

Basta olharmos de relance para o mapa-múndi para percebemos, com linear facilidade, que os povos dirigidos por classes dirigentes mesquinhas, medíocres e impreparadas conduzem e arrastam, invariavelmente, os respectivos povos à miséria e ao sofrimento, privando-os de qualquer perspectiva de futuro e de acesso ao bem-estar e à felicidade que o conhecimento disponível no século XXI, só por si, seria capaz lhes proporcionar não fora a perniciosa acção dessas mesmas classes dirigentes.

Basta fixar-nos, igualmente e por um instante, na mais recente crise global para concluirmos da enorme e quase exclusiva responsabilidade que deve ser imputada à elite financeira internacional no despoletar dessa mesma crise.

Vêm estas palavras a propósito dos mais recentes desenvolvimentos políticos a nível nacional. Ainda a XVIII legislatura vai no adro - decorreu apenas um mês sobre a tomada de posse do novo governo - e começamos já a ser confrontados com os primeiros e preocupantes sinais que podem vir a condicionar de forma perniciosa o nosso, mais próximo, futuro colectivo.

A nossa Assembleia da República, antes mesmo de cuidar daquilo que é a sua principal tarefa – legislar e fiscalizar o governo - tem vindo a revelar uma especial apetência por condicionar a acção governativa (o que não augura nada de bom), numa espécie de culto revanchista aliado a uma certa visão mesquinha e pequenina (rejeitada nas urnas pelos portugueses), que assenta na ideia que tudo se resolve revogando e suspendendo.

Pede-se aos senhores deputados que apresentem propostas legislativas que contribuam para a construção de um país moderno, competitivo e solidário. Pede-se, ainda, aos mesmos senhores deputados que fiscalizem e critiquem, de forma exigente e rigorosa, a acção do governo naquilo que lhes parecer condenável.

O que os senhores deputados não devem fazer, antes devem abster-se de praticar, é tentar governar o país a partir do próprio parlamento. Esse exercício cabe ao governo. O governo governa e a Assembleia da República legisla e fiscaliza o governo. Inverter esta lógica é criar o absurdo paradoxal de pôr a oposição a governar e o governo a fazer oposição.

Portugal e os portugueses só podem ganhar se cada um souber ocupar o seu próprio espaço e desempenhar com lealdade o seu próprio papel. Portugal e os portugueses terão tudo a perder se a exagerada crispação política continuar a obliterar a nossa classe dirigente enleando-a num leito pantanoso que a todos atingirá de forma gravosa e inexorável.

Tal com a própria democracia também o sucesso e o desaire colectivos são obra comum de partidos rivais. Espera-se que a natural rivalidade entre partidos seja posta ao serviço do sucesso de todos e que jamais seja utilizada como arma de arremesso para ajustes de contas que só poderão conduzir ao nosso desaire colectivo.

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