18 dezembro 2009

Douro com sentido


A sustentabilidade do Douro tem dependido em larga medida e desde há séculos da monocultura da vinha. Nas últimas duas décadas o Douro tem feito, e bem, um esforço notável para rejuvenescer e modernizar a sua principal fonte de sustentabilidade. Grande parte das unidades produtivas da região passou por esse processo.

Mas o Douro, tal como todas as regiões de monocultura ou monoprodução, está demasiado exposto às vicissitudes da economia de mercado. Quando as coisas correm bem, correm bem para todos; quando correm mal, também correm mal para todos. Por isso, o Douro, para além da natural necessidade de renovar o seu tecido produtivo (o que conseguiu com algum sucesso) necessita também de diversificar a sua produção, de alargar a sua base da sua sustentabilidade. O Douro terá que reinventar novas áreas de negócio.

Aquela que melhor combina com a sua economia tradicional e, diga-se, com a sua geografia, com a sua história e com o seu património é, sem sombra para dúvidas, a área do turismo. E desenvolver a área do turismo é o que o Douro tem vindo a ensaiar. E demorará algum tempo até que os resultados dessa aposta se venham a fazer sentir de forma verdadeiramente generalizada. É, pois, preciso ter calma e muita paciência e acima de tudo congregar uma grande dose de inteligência. Inteligência para formatar um bom produto turístico compatível com o seu potencial endógeno. Calma e paciência para saber aguardar que o fruto amadureça.

O Douro possui uma forte identidade histórica e alberga um notável património cultural que deve ser respeitado e valorizado. E é por aí que deve passar a constituição do produto turístico que o Douro se propõe formatar. Um produto turístico que tire partido da excelência das suas paisagens, do seu notável património cultural e que potencie a sua história. O turismo no Douro deve contar com o que é seu. Com as suas gentes, com as suas vinhas, com as suas quintas, com os seus vinhos e culturas tradicionais, com os seus monumentos, com as suas cidades, vilas e aldeias, com a sua paisagem reconhecida como património mundial.

O Douro é um todo. Quem o visita deverá encher as vistas com o deslumbramento das suas paisagens, deverá experimentar os odores da terra e daquilo que ela produz, deverá encantar o palato com aquilo que mãos hábeis e sábias à terra vão tirando, deverá perscrutar os silêncios profundos dos seus vales, deverá sentir o vibrar forte da alma duriense.

O produto turístico duriense deverá embalar tudo isto. Por isso, o Douro não se pode limitar a vender postais ilustrados num qualquer passeio fluvial no leito do seu rio. Embandeirar em anúncios megalómanos vindos do exterior, rejubilar com cantos de sereias vindas de paraísos tropicais inexistentes poderão ser fatais ao Douro. Não há futuros fáceis. E os durienses sabem-no como sabem que o melhor futuro é aquele que se constrói com o seu trabalho, com o seu esforço e com a sua inteligência.

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